Estudos
demostraram que dois terços das pessoas que tiveram AVC (Acidente
Vascular Cerebral) ficam com sequelas ao nível da dificuldade
motora, da comunicação e do comprometimento psicofisiológico. As
alterações motoras têm forte influência na qualidade de vida e no
grau de dependência. Para estes doentes, existe assim uma limitação
ao nível das atividades de vida diárias, podendo prejudicar o
manuseamento de objetos, a mobilidade, e os cuidados de higiene, aos
quais ficam restritos devido às disfunções decorrentes da doença.
No entanto, nem todas as pessoas ficam com as mesmas limitações,
pois a área do cérebro que é afetada pelo AVC é que vai definir e
condicionar qual o hemicorpo afetado.

Cuidadores
Informais
As pessoas que
apresentam sequelas de AVC podem ser totalmente ou parcialmente
dependentes, sendo que é necessário um cuidador e por vezes por
escassez de recursos, entre outros, o cuidador passa a ser alguém da
família ou amigo, tornando-se num cuidador informal.
“ Os
cuidadores de pessoas dependentes em Portugal sofrem de depressão,
são na maioria mulheres (92%), têm uma média de idade de 62 anos.
O estudo "Familiares Cuidadores de Pessoas Dependentes",
cujo responsável é Carlos Sequeira, professor na Escola Superior de
Enfermagem do Porto e presidente da Sociedade Portuguesa de
Enfermagem de Saúde Mental, conclui também que o "Estado dá
muito poucas ajudas" aos cuidadores e que mais de 70% dos
cuidadores sofrem de uma "sobrecarga de trabalho", que
abrange tanto trabalho físico, como trabalho emocional.” (Lusa,
2015)
Quando uma
pessoa se torna cuidador acaba por deixar para segundo plano as
próprias necessidades e muitas vezes surgem determinadas
dificuldades, sentimentos e necessidades relacionadas com a falta de
informação sobre a doença e o cuidar do outro, com a falta de
recursos, de apoio económico e a falta de suporte emocional,
tornando-se assim um cuidador cansado e muitas vezes saturado.
Testemunho
de um Cuidador de alguém com AVC
Para ter uma
melhor perceção sobre a relação entre cuidador e um doente com
AVC foi recolhido o testemunho de uma cuidadora informal. O marido
sofreu um acidente na tropa tornando-o paraplégico e foi a partir
desse momento que se tornou cuidadora. Há 7 anos o senhor teve um
AVC, que lhe afetou o membro superior direito com compromisso da
comunicação. Apesar do acidente que o deixou paraplégico, a sua
vida social não sofreu alterações drásticas, permanecia uma
pessoa ativa, dedicando-se á pintura, chegando ainda a vender muitos
desses quadros.
Colocámos
questões á cuidadora para entender os sentimentos de ambos. Neste
momento o senhor tem 54 anos apenas emite alguns sons e poucas
palavras, o membro superior esquerdo está funcional colaborando com
o mesmo, conseguindo assim adaptar-se às suas limitações, apesar
de nunca ter feito reabilitação motora e terapia da fala. Durante a
entrevista ficou uma pergunta em aberto, “ Será que a terapia da
fala faria com que neste momento a comunicação não estivesse
comprometida?”, uma vez que o senhor tinha potencial para ser
submetido á reabilitação da fala. Ao longo destes anos a cuidadora
foi estimulando-o, bem como a equipa do centro de saúde que se
desloca ao seu domicílio. Aí efetuam o levante e a transferência
para a cama. A pouca estimulação que teve, já lhe permitiu dizer
algumas palavras, deste modo se a área de wernicke que é a área do
cérebro responsável pela linguagem falada e escrita fosse
devidamente estimulada ou seja na altura correta (logo após ao
acidente) e com o acompanhamento adequado (equipa multidisciplinar)
poderiam ter sido obtidos bons resultados.
Com isto
conseguimos entender o quão importante é a parte social, no entanto
quando o senhor teve o AVC, amigos e alguma família deixaram de o
visitar porque não queriam lidar com o facto de não o entenderem. A
frustração é de ambas as partes, pois o senhor compreende o que
lhe dizem apenas não consegue comunicar através da fala. De certo
modo é necessário um esforço para compreendê-lo e as pessoas não
estavam dispostas para tal, porem a privação da vida social
influenciou de forma negativa na sua recuperação.
Socialmente a
comunidade discrimina, colocando de parte as pessoas com esta
patologia. Mas como foi referido anteriormente o convívio com outras
pessoas é bastante relevante para a reabilitação.
Devemos ter
sempre em consideração a situação do outro, tentando compreender
as suas patologias, não fazendo juízos de valor errados e
discriminatórios.
Autores:
Alunas de Enfermagem da Escola
Superior de Saúde de Portalegre
15ª Licenciatura de Enfermagem
Ines Duque
Joana Jorge