quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

CUIDADORES INFORMAIS DE DOENTES COM AVC


Estudos demostraram que dois terços das pessoas que tiveram AVC (Acidente Vascular Cerebral) ficam com sequelas ao nível da dificuldade motora, da comunicação e do comprometimento psicofisiológico. As alterações motoras têm forte influência na qualidade de vida e no grau de dependência. Para estes doentes, existe assim uma limitação ao nível das atividades de vida diárias, podendo prejudicar o manuseamento de objetos, a mobilidade, e os cuidados de higiene, aos quais ficam restritos devido às disfunções decorrentes da doença. No entanto, nem todas as pessoas ficam com as mesmas limitações, pois a área do cérebro que é afetada pelo AVC é que vai definir e condicionar qual o hemicorpo afetado.

Estas sequelas resultantes de AVC têm duração e limitações variadas, normalmente a recuperação é de médio e longo prazo e implicam em variações no grau de dependência dos cuidados. Por essa razão a recuperação do doente envolve esforços conjuntos dele e de sua família alem dos profissionais de saúde, tanto no âmbito hospitalar quanto fora dele. Diante dessas situações são necessárias algumas garantias para facilitar a manutenção e recuperação do equilíbrio na saúde, principalmente quando existe insuficiência de recursos financeiros.

Cuidadores Informais

As pessoas que apresentam sequelas de AVC podem ser totalmente ou parcialmente dependentes, sendo que é necessário um cuidador e por vezes por escassez de recursos, entre outros, o cuidador passa a ser alguém da família ou amigo, tornando-se num cuidador informal.

Os cuidadores de pessoas dependentes em Portugal sofrem de depressão, são na maioria mulheres (92%), têm uma média de idade de 62 anos. O estudo "Familiares Cuidadores de Pessoas Dependentes", cujo responsável é Carlos Sequeira, professor na Escola Superior de Enfermagem do Porto e presidente da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, conclui também que o "Estado dá muito poucas ajudas" aos cuidadores e que mais de 70% dos cuidadores sofrem de uma "sobrecarga de trabalho", que abrange tanto trabalho físico, como trabalho emocional.” (Lusa, 2015)

Quando uma pessoa se torna cuidador acaba por deixar para segundo plano as próprias necessidades e muitas vezes surgem determinadas dificuldades, sentimentos e necessidades relacionadas com a falta de informação sobre a doença e o cuidar do outro, com a falta de recursos, de apoio económico e a falta de suporte emocional, tornando-se assim um cuidador cansado e muitas vezes saturado.

Testemunho de um Cuidador de alguém com AVC

Para ter uma melhor perceção sobre a relação entre cuidador e um doente com AVC foi recolhido o testemunho de uma cuidadora informal. O marido sofreu um acidente na tropa tornando-o paraplégico e foi a partir desse momento que se tornou cuidadora. Há 7 anos o senhor teve um AVC, que lhe afetou o membro superior direito com compromisso da comunicação. Apesar do acidente que o deixou paraplégico, a sua vida social não sofreu alterações drásticas, permanecia uma pessoa ativa, dedicando-se á pintura, chegando ainda a vender muitos desses quadros.

Colocámos questões á cuidadora para entender os sentimentos de ambos. Neste momento o senhor tem 54 anos apenas emite alguns sons e poucas palavras, o membro superior esquerdo está funcional colaborando com o mesmo, conseguindo assim adaptar-se às suas limitações, apesar de nunca ter feito reabilitação motora e terapia da fala. Durante a entrevista ficou uma pergunta em aberto, “ Será que a terapia da fala faria com que neste momento a comunicação não estivesse comprometida?”, uma vez que o senhor tinha potencial para ser submetido á reabilitação da fala. Ao longo destes anos a cuidadora foi estimulando-o, bem como a equipa do centro de saúde que se desloca ao seu domicílio. Aí efetuam o levante e a transferência para a cama. A pouca estimulação que teve, já lhe permitiu dizer algumas palavras, deste modo se a área de wernicke que é a área do cérebro responsável pela linguagem falada e escrita fosse devidamente estimulada ou seja na altura correta (logo após ao acidente) e com o acompanhamento adequado (equipa multidisciplinar) poderiam ter sido obtidos bons resultados.

Com isto conseguimos entender o quão importante é a parte social, no entanto quando o senhor teve o AVC, amigos e alguma família deixaram de o visitar porque não queriam lidar com o facto de não o entenderem. A frustração é de ambas as partes, pois o senhor compreende o que lhe dizem apenas não consegue comunicar através da fala. De certo modo é necessário um esforço para compreendê-lo e as pessoas não estavam dispostas para tal, porem a privação da vida social influenciou de forma negativa na sua recuperação.

Socialmente a comunidade discrimina, colocando de parte as pessoas com esta patologia. Mas como foi referido anteriormente o convívio com outras pessoas é bastante relevante para a reabilitação.

Devemos ter sempre em consideração a situação do outro, tentando compreender as suas patologias, não fazendo juízos de valor errados e discriminatórios.



Autores:

Alunas de Enfermagem da Escola Superior de Saúde de Portalegre
15ª Licenciatura de Enfermagem
Ines Duque
Joana Jorge

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