sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A DEPRESSÃO

Começo por dizer que tudo o que se possa comunicar nestas linhas será pouco, já que é um assunto muito vasto. Não plenamente compreendido e qualquer teor sobre a depressão será inacabado, ou não fosse a investigação nesta área ainda constante. “Para que se saiba, a depressão está entre as condições psiquiátricas mais comuns”.


Os SINTOMAS

Coloco-lhe esta primeira questão, já alguma vez se sentiu assim? Com... Humor deprimido, baixa auto-estima, cansaço, falta de energia, falta de atenção e concentração, incapacidade de tomar decisões, alterações de sono, perda de interesse e incapacidade para sentir prazer, ideias pessimistas, perda de apetite e perda de peso, ou mais raramente, aumento do apetite e do peso, ideias de culpa ou de inutilidade, ideias de auto-agressão ou suicídio, sintomas físicos inexplicáveis (por exemplo, sintomas dolorosos, sintomas gastro-intestinais, outros).

Não fique preocupado (a), se começar a pensar que tem alguns destes sintomas, não comece a interpretar que está deprimido (a). Estar-se deprimido não é a simples tristeza, estar-se deprimido, também não significa que todos os sintomas, descritos anteriormente, estejam presentes, de qualquer forma, muitos dos sintomas enumerados, podem fazer parte do sofrimento (continuado) que é sentido por alguém que está com depressão.

Estar-se deprimido, também, não é sinónimo de vergonha, muito menos de fraqueza e pode acontecer a qualquer um de nós. A vida por vezes e permitam-me a expressão, não é “pêra doce”, mas isto, não significa que se esteja a ter uma visão pessimista, pois sabemos, que na vida de todos nós, sucedem acontecimentos (por exemplo), que nos afectam muito, podendo levar-nos à depressão. Mas reforço esta ideia, não confundamos tristeza e depressão, pois a tristeza é uma emoção comum a qualquer um de nós, entre outras emoções e faz parte do ser humano.

DADOS

Quem não conhece alguém que tem ou já teve depressão? De facto, existem estudos que indicam que a depressão é uma doença que afecta ao longo da vida cerca de 10% a 25% das mulheres e aproximadamente metade dessa percentagem no caso dos homens. Pelo menos 10% da população satisfazem os critérios de diagnóstico da depressão em dado momento e cerca de 20% experimentam um ou mais episódios durante o tempo de vida. É uma doença que diz respeito a quase todas as idades, desde as crianças até aos idosos. Apresenta implicações sociais marcadas, sendo por isso, um verdadeiro problema de saúde pública, de acordo com o número de pessoas atingidas.

A Organização Mundial de Saúde estima que dentro de duas décadas as perturbações depressivas venham a ser a segunda patologia no que diz respeito à incapacidade, querendo isto dizer, que o problema tenderá a aumentar nos próximos anos.
COMO ACTUA

A depressão “intromete-se” no pensamento, no que se sente, no comportamento e na maneira de nos relacionarmos com os outros. A família é afectada, o trabalho, predispondo muitas vezes para situações de conflito e desentendimento. Diz respeito a muitas consequências negativas, mas é sobretudo, em termos individuais, que as consequências são maiores. É causadora de um grande sofrimento psíquico, podendo conduzir ao desespero e até mesmo ao suicídio.
O QUE É A DEPRESSÃO

Sucintamente, pode ser entendida como um conjunto de sinais (observáveis pelos outros) e sintomas (descritos pela pessoa que sofre de depressão) e que perturba várias áreas como, os afectos, o pensamento, a cognição, o comportamento, o próprio organismo, traduzindo-se em alterações biológicas.

Existem diferentes tipos de depressão (episódio depressivo major, perturbação bipolar, a distimia, perturbação afectiva sazonal, a ciclotimia, a depressão na mulher – síndrome disfórico pré-menstrual, a depressão pós-parto).
QUAIS SÃO AS CAUSAS

A investigação acerca da depressão tem sido intensa, contudo, muitas perguntas existem por esclarecer. Quando se fala em causas, muitos são os profissionais que optam por referir a depressão como uma doença multifactorial (vários factores podem estar na origem). De qualquer forma, poder-se-á designar três factores associados, responsáveis pela depressão: genéticos, biológicos e psicossociais.

Sem que se esteja a desvalorizar outros factores ou outros modelos, passar-se-ia a abordar os factores psicossociais e o modelo cognitivo.

O modelo cognitivo, em síntese, refere que a depressão está na base de como se estrutura a experiência. De acordo com a tríade cognitiva deste modelo, 1º o indivíduo tem uma percepção negativa de si próprio (acha que não é bem sucedido, um infeliz); 2º a interpretação que faz da sua experiência actual é hostil e frustrante (tudo me corre mal) e tem 3º, uma visão catastrófica do futuro (nada de bom se pode esperar do amanhã). O mundo é assim interpretado segundo um esquema depressivo que distorce as experiências numa tendência negativa e derrotista.

Ocorrem erros cognitivos na percepção dos acontecimentos que conduzem a ideias arbitrárias e desadaptativas. Essas ideias dão por sua vez lugar a pensamentos negativos (automáticos) que são perseverantes e irreflectidos, do género – não vou conseguir, sou um incapaz, não vou conseguir chegar lá, entre outros. Todo o processo culmina num estado depressivo.

Um indivíduo negativo/pessimista apresenta crenças e comportamentos inadequados, faz ruminações, distorções cognitivas, “tudo ou nada” e vê uma só perspectiva, “preto ou branco”, não procura outras perspectivas. Atribui significados negativos não tendo de o fazer, pode exagerar, dar dimensão, pode dramatizar, pode “fazer uma tempestade num copo de água”.

ESSENCIAL

Os pensamentos (negativos ou os positivos) influenciam as nossas emoções, que por sua vez, têm implicações no nosso funcionamento. Quando se tem a percepção do nosso próprio mal-estar (resultado por exemplo, do pessimismo – como se estrutura a experiência), isso vai conduzir a outros pensamentos negativos, é como que um “sistema que se está a alimentar e não se interrompe”. Quando estamos deprimidos, “ mergulhados” num pessimismo, é quando somos menos eficazes em relação aos acontecimentos, e podemos tornar a nossa vida ainda mais difícil. Perceber que se está a sofrer de depressão é muito importante, podendo ser necessário procurar ajuda. Numa 1ª linha, surge a ajuda preciosa do médico de família.

O grande desafio que se coloca é saber-se aplicar estes “conceitos”, esta “lógica” em relação às circunstâncias da vida, de qualquer forma, poder-se-ão, considerar estratégias, “ferramentas” que podem ajudar qualquer indivíduo. O que esta linguagem também diz é que mesmo diante de problemas, poder-se-á, ser mais bem “sucedido”, do que se estando desprovido desta forma de organizar a experiência.

Ainda assim, não podemos nunca esquecer que o sofrimento também faz parte da vida, existem momentos difíceis e existem momentos melhores.

Gosto de pensar que somos um sistema que está em constante interacção com uma multiplicidade de factores, muitos dos quais não temos consciência. Cabe a cada um de nós gerir as suas emoções da melhor forma possível, sem nunca esquecer que não existem pessoas perfeitas.



Jorge Mourato
Psicólogo

1 comentário:

Celso Silva disse...

Apenas uma achega:

A 10 de Setembro assinala-se o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio (muito relacionado com a Depressão), que em 2010 é subordinado ao tema “Many faces, Many places: Suicide Prevention Across the World”.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de um milhão de pessoas comete suicídio por ano, o que corresponde a 1,4% da carga da mortalidade mundial. Em todo o mundo, nos últimos 45 anos, a taxa de suicídio aumentou 60% e o suicídio passou a ser uma das três principais causas de mortalidade entre os 15 e os 44 anos e, em alguns países, a segunda causa de morte nos jovens entre os 10 e os 24 anos.

Em 2010 e à semelhança de anos anteriores, a efeméride é assinalada pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio, em colaboração com a OMS, através de uma campanha que pretende sensibilizar para o facto do suicídio ocorrer em todas as idades, alertando para a necessidade de definir estratégias de intervenção adequadas a cada grupo etário.

Fonte: http://www.acs.min-saude.pt/2010/07/07/dm-suicidio/